quinta-feira, 17 de junho de 2010

O papel do educador no CAT (Centro de Acolhimento Temporário)

Actualmente, a presença do educador é mais visível, publicamente, em contextos como creches e jardins-de-infância, ou seja, estes são os contextos formais onde os educadores e estagiários têm a possibilidade de contactar com os problemas reais da profissão, inclusive com crianças em risco e com necessidades educativas especiais. É nestes contextos, que o educador tem oportunidade de contactar, diariamente, com estas crianças e, ao mesmo tempo, integrá-las.
No entanto, fora deste leque, que é a creche e o jardim-de-infância existem, ainda, outros contextos onde a presença do educador marca estas crianças, nomeadamente em ATL’s, ludotecas, museus, bibliotecas, hospitais e centros de acolhimento. Nos dois últimos contextos referenciados, o papel do educador torna-se diferente, na medida em que são espaços onde se ganham experiências extremamente significativas e enriquecedoras, tendo em conta que, em hospitais, o educador deve procurar “(…) promover a qualidade de vida [das] crianças, através de actividades lúdicas, a fim de reduzir o medo e o stress que advém de situações de hospitalização, assim como promover experiências e experiências inesquecíveis, diminuindo a distância entre o ambiente natural e o ambiente hospital e, acima de tudo, respeitar a sua individualidade.” (Baptista [et al.], 2002, p.17).
Por outro lado, num centro de acolhimento, o educador funciona não só como educador, mas também como “mãe/pai”, na medida em que toda a parte de responsabilidade paternal passa pelo mesmo, desde consultas a reuniões de pais, ou seja, cabe ao educador “(…) trabalhar numa equipa multidisciplinar e multiprofissional, respeitando sempre o saber e a experiência dos outros técnicos, mas dando também o seu contributo fundamentado. Saber organizar os relatórios individuais sobre cada criança, com os dados das consultas médicas e das observações diárias feitas por si e discutidas com outros educadores ou professores. Dar informações muito concretas sobre o trabalho efectuado neste centro, sem nunca trair o sigilo profissional, que neste trabalho, como em tantos outros existe. Fazer formação, através do seu próprio exemplo e também através da sua própria palavra, às pessoas que estão diariamente com as crianças. Ter muita disponibilidade para a comunidade envolvente: sensibilizando-a; trabalhando lado a lado, contactando os diversos serviços e instituições vizinhos; trabalhando com as famílias naturais, de acolhimento ou de adopção. Fazer formação contínua para o crescimento, valorização profissional ou conhecimento pessoal, tão importante neste tipo de trabalho comunitário, que procura dar resposta a um problema social de tanta importância. Saber administrar um centro de acolhimento nestes moldes, pois é da boa administração de recursos humanos e financeiros que vivem estes projectos sociais. Avaliar periodicamente o seu próprio trabalho, considerando os avanços e os recuos pessoais e institucionais.” (Aguiar, 1991, p.26).
Em ludotecas, bibliotecas e museus, o papel do educador não é muito vincado, tendo em conta que as crianças em risco, frequentam muito pouco estes espaços e, quando frequentam, é por um curto espaço de tempo, não existindo projectos educativos, como na creche, no jardim-de-infância, no CAT ou no hospital. Projectos esses onde “(…) deverão estar registadas, entre outras, as acções e respostas específicas a implementar, as parcerias a estabelecer, as acessibilidades físicas a efectuar, assegurando assim a participação dos alunos com necessidades educativas especiais de carácter permanente nas actividades de cada grupo ou turma e da comunidade educativa em geral.” (Ministério da Educação, 2008, p.18). Neste sentido, em contextos como ludotecas, bibliotecas, museus, creches e jardins-de-infância o educador adquire um papel de animador ao ter de ser lúdico, versátil e dinâmico, procurando, essencialmente, incitar as crianças a “(…) representar as suas experiências, sentimentos e ideias (…)” (Blachford, 2004, p.131).
Contudo, a crescente diversidade de respostas educativas em educação de infância implica a cada momento uma formação (inicial e contínua) cada vez mais exigente, bem como uma maior adaptabilidade, por parte dos profissionais. A existência de contextos diversificados em educação de infância é, cada vez mais, uma realidade, havendo a cada momento, uma maior necessidade de se lhes dar uma resposta eficaz, sendo por este motivo, que se revela determinante a presença de profissionais aptos como os educadores de infância, para efectivarem a importância destes contextos na sociedade actual.
Desta forma, é importante ressaltar, a complexidade do que é ser educador de infância e de como o seu papel pode ser multifacetado, num centro de acolhimento temporário para crianças em risco. As funções destes profissionais, não se limitam à prática pedagógica em creche e jardim-de-infância, situações que encontramos com maior frequência, num centro de acolhimento temporário os profissionais têm uma pluralidade de funções. A sua acção pedagógica é adaptada, consoante o ambiente onde está inserido, assim como as suas competências pedagógicas devem abranger uma grande variedade de contextos, na medida em que o que é exigido a um educador numa sala de jardim-de-infância é bastante distinto do trabalho realizado num centro de acolhimento.
Contudo, tal como em outros contextos educativos, no centro de acolhimento temporário (CAT), a criança deve “(…) encontrar no educador alguém que não o tente utilizar para fins ideológicos ou pessoais, e que, pelo contrário, preocupado em progredir, se mostre coerente e estável no seu comportamento, animado pela vontade de uma pesquisa activa e crítica.” (Postic, 2008, p.281).
Assim, como em contextos como as creches e jardins-de-infância, é crucial que o educador saiba ser, investigar/estudar e, também, agir. No entanto, num contexto como o CAT, que exige mais do educador enquanto pessoa, do que enquanto profissional é fulcral que o educador saiba ser, tendo em conta que a sua personalidade, a sua maneira de encarar a vida, o gosto pela profissão influencia a sua acção pedagógica. É, também, fundamental o gosto por estudar e investigar, pois a instrução teórica não é tudo, não sendo, no entanto, dispensável, é imprescindível saber fundamentar e contextualizar as decisões e acções que são tomadas no dia-a-dia para com as crianças e para com os adultos. Relativamente ao agir, é, importante que o educador tenha presente que é na interacção com a criança que tudo se vai desenvolvendo e construindo, entendendo-a e respeitando-a como sujeito da educação na sua singularidade, através de uma intervenção adequada. É no saber agir que o educador demonstra se tem ou não as competências do saber ser e do saber investigar/estudar.
Especialmente, num contexto como o CAT é imprescindível que o educador não esqueça que não trabalha sozinho, ou seja, para que seja desenvolvido um trabalho de qualidade num contexto educativo é, fundamental, não só que nele trabalhem bons profissionais, mas também que estes saibam funcionar como uma equipa e que estabeleçam relações positivas, pois “Não se trata de educação, a não ser que nela estejamos todos empenhados.” (Ana Cristina cit. in Moreira, 1999, p.34).
Desta forma, o educador é um profissional integrante e integrado numa equipa, e, como tal, deve ser um elemento dinâmico e relacional nos espaços educativos, desenvolver a harmonia e a cooperação entre os diversos membros da equipa. O educador de infância é também membro de um grupo profissional, devendo respeitar e fazer respeitar o seu estatuto profissional, bem como saber fundamentar, dar a conhecer e valorizar a sua prática pedagógica.
Porém, é importante salientar que o trabalho com crianças e jovens em situação de risco, exige do educador uma resposta imediata e uma postura diferente da adoptada nos restantes contextos educativos, ou seja, no CAT, o papel do educador de infância passa, especialmente, por promover comportamentos baseados no respeito mútuo, uma vez que ajudam a construir relações agradáveis e um ambiente mais feliz. É elementar que todos os intervenientes tenham consciência de que “(…) a consideração pela individualidade e diversidade de experiências de cada pessoa – sem prejuízo da desejada igualdade na qualidade de tratamento – também contribui para um ambiente mais amistoso e pacífico.” (Manual de Boas Práticas, s/d, p.110).
A partir das características explicitadas relativamente ao papel do educador no CAT é, possível, depreender a importância que este tem na vida das crianças institucionalizadas, sendo, também, crucial que este seja motivado, optimista, e persistente, não sendo qualquer educador apto a realizar a sua prática num CAT.
É de salientar que este deve saber ouvir, saber questionar, saber negociar, numa atitude permanente de iniciativa, tal como defende Martínez (2003), esta postura conduz o profissional a “(…) ser capaz de acreditar e avançar para soluções equilibradas que permitam a autonomia e responsabilização (…)” (p.2) das crianças, levando-o a “(…) descobrir, em todas as situações, em todos os indivíduos, os pontos positivos e as capacidades de cada um (…)” (idem).
Quando o educador consegue ser alguém com uma atitude positiva, possibilita a descoberta de aspectos positivos em todas as circunstâncias, podendo estes serem aproveitados no decorrer da sua acção pedagógica, como forma de se abordarem determinados problemas e agindo de encontro à sua possível resolução.
No entanto, o educador deve ter a capacidade de distanciar-se dos problemas das crianças, para que perceba os problemas das crianças, através do que elas transmitem, afastando estereótipos e preconceitos, assim como juízos de valor, tentando, assim, ajudar as crianças em questão. Porém, esta distanciação está, longe de ser a da indiferença, serve apenas de protecção para o educador.
Neste sentido, o desenvolvimento do espírito crítico e auto-crítico conduz à compreensão dos aspectos vitais de motivação das crianças para, “(…) a partir daí, motivá-los na procura de respostas a médio e longo prazo, e na elaboração de um projecto de vida estável, auto-sustentado, que permita o desenvolvimento pessoal e o respeito pelo colectivo” (Martínez, 2003, p.3).
Como principal competência de um educador, destaca-se a capacidade de empatia, de se relacionar com os outros, e a capacidade de dádiva, de dar de si mesmo, interessar-se verdadeiramente pelos problemas dos outros, assim como a capacidade de ser solicito para com o outro.
A sua presença num contexto como o CAT é, absolutamente, fundamental, na medida em que tem uma componente teórica que suporta aspectos do desenvolvimento integral das crianças, bem como é detentor de competências pedagógicas que possibilitam um acompanhamento adequado e individualizado a cada uma das crianças inseridas numa estrutura deste carácter. Este profissional é responsável por cada criança, pelo grupo e pela equipa de trabalho, assegurando a gestão da rotina diária, sendo sua função acompanhar as crianças ao médico, bem como a elaboração de relatórios dirigidos ao tribunal e à segurança social sobre a evolução da situação de cada criança. No que respeita à construção do currículo e à planificação do dia-a-dia, cabe ao educador saber gerir e adequar a sua prática pedagógica, dependendo esta do grupo de crianças que está institucionalizada a cada momento.
Existe, um plano de acção estabelecido para um determinado grupo de crianças em situação de risco acolhidas por determinada instituição, no entanto, é, praticamente, impossível, serem expostas no mesmo todas as situações, visto que todos os dias surgem situações diversas e específicas.
Neste sentido, é, importante que o educador tenha presente que ao trabalhar “(…) numa estrutura residencial, reconhecer e respeitar a diferença é uma forma de demonstrar que valorizamos as pessoas com quem nos relacionamos, embora possamos planear a nossa intervenção de uma forma global, temos de considerar especificamente para cada residente, a sua idade, e fase de desenvolvimento (Manual de Boas Práticas, s/d, p.106). E, também, que entenda que “(…) querer formar um ser, é procurar formar-se a si mesmo, aproveitar-se de um duplo para se conhecer e agir sobre si mesmo, mas é também aceitar libertar-se de si para viver no outro e sobretudo ver-se partir no outro, já não se julgando a si próprio na corrida, mas apreciando a própria marcha daquele que toma sozinho o seu caminho (Postic, 2008, p.280).
Portanto, a prática pedagógica do educador de infância, num centro de acolhimento temporário, passa por “(…) saber acolher os apelos, escutá-los, descobrir o sentido da procura e do desejo da criança, decifrar os sinais da sua vida interior, tais são as primeiras condições de uma caminhada educativa (Postic, 2008, p.281).

3 comentários:

  1. Patrícia:

    A sua experiência no CAT enriquece este blog. Não conheço qualquer livro infantil para crianças que inclua esta temática. Alguém conhece? Mas o livro do Pedro Strech "Fihos da Solidão" é um livro importante para compreender a problemática do abandono. Já leram?

    Luísa Ramos de Carvalho

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  2. Ainda não li o livro que sugeriu Professora. Obrigada por partilhar estas referencias bibliográficas saõ sempre muito importantes, e este e um tema que suscita imenso a minha curiosidade, vou apontar para o ler no Verão! :P

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  3. Não conheço o livro que a professora indica, e também não conheço nenhum sobre esta temática, no entanto, levo no coração a vida daquelas crianças que já daria para compilar um livro. Crianças hoje, adultos amanhã.

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