sexta-feira, 25 de junho de 2010

As representações sociais: O que é isso?

Introdução

Na nossa sociedade actual, a análise do estudo das representações sociais do Jardim-de-Infância deveria ocupar um lugar cada vez mais relevante no discurso científico e pedagógico do educador de infância, na medida em que a percepção desta realidade social lhe possibilitará depreender melhor o contexto escolar e mais concretamente a criança em si. Tal facto, na nossa perspectiva, irá permitir ao educador melhorar a sua intervenção na prática pedagógica, sendo, assim, visível a pertinência deste estudo exploratório na temática das representações sociais.
É de salientar que os estudos sociais são denominados sociais, visto que se encarregam das nossas vidas sociais, ou seja, da forma como vivemos no nosso mundo social. No entanto, existem diversas definições para representação social, apesar de todas reflectirem os nossos papéis como cidadãos membros de uma sociedade. Assim, uma representação social, segundo Moscovici (1969, in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.20), “compreende um sistema de valores, de noções e de práticas relativas a objectos sociais, permitindo a estabilização do quadro de vida dos indivíduos e dos grupos, constituindo um instrumento de orientação da percepção e de elaboração das respostas e contribuindo para a comunicação dos membros de um grupo ou de uma comunidade” , posteriormente Jodelet (1989, p.36 in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.20), afirmou que uma representação social é “(…) uma forma prática de conhecimento, socialmente elaborado e partilhado, com finalidades práticas e concorrendo para a construção de uma realidade de comum a um conjunto social.” .
Mediante tais definições é-nos possível percepcionar que este estudo social visa depreender o desenvolvimento da compreensão pelas crianças da sociedade em que vivem, tendo em linha de conta que um estudo social é “(…) uma área do currículo que extrai objectivos da natureza da cidadania numa sociedade democrática e estabelece ligação com outras sociedades, retira conteúdos das ciências sociais e outras disciplinas e reflecte experiências pessoais, sociais e culturais dos alunos.” (1983, p.1 cit in SPODEK, 2002, p.391) . Um estudo social compreende, ainda, algumas das seguintes características: envolvem conteúdos (como processos de aprendizagem), baseiam-se na informação, requerem o processamento da informação, exigem uma tomada de decisões e a resolução de problemas, ocupam-se do desenvolvimento e análise dos valores do indivíduo, envolvem a procura de padrões nas nossas vidas e fazem parte do quotidiano da actividade do homem (in SPODEK, 2002, p.391) .
Em suma, iremos explicitar os resultados de um questionário proposto às crianças referente às suas representações do Jardim de Infância, que por sua vez responderam por meio do método desenhar e escrever de Williams, Wetton e Moon (1989 in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.21) e, explicitaremos, também, a nossa opinião crítica, pessoal e fundamentada acerca do mesmo.


Identificação da Obra e do Autor

O presente estudo exploratório foi retirado da revista denominada Cadernos de Educação de Infância nº54 do ano 2000. Este estudo foi redigido por um docente da Escola de Educação de Viana do Castelo – Jorge M. F. Barbosa – Licenciado em ciências da educação e mestrado em Psicologia. Jorge Barbosa matriculou-se em 1989 para dar início à sua escalada rumo à licenciatura, tendo concluído a mesma em 1994/1995. Porém, Jorge Barbosa não se limitou à licenciatura em Ciências da Educação o que o levou a iniciar o seu mestrado em Psicologia no ano de 1997, terminando o mesmo em 1999/2000.
Este artigo corresponde à temática das representações sociais das crianças no que diz respeito ao Jardim-de-Infância, ou seja, o Jardim-de-Infância é visto como um “objecto social” de onde os pais, os educadores e as crianças são parte integrante. O entendimento desta realidade social certamente contribuirá para ajudar o educador a compreender melhor quer o contexto escolar quer o mundo da criança. Tal facto permitirá, ainda, ao educador melhorar a sua intervenção na prática pedagógica, diariamente.











Palavras-Chave

Representações Sociais
Intervenção pedagógica























Resumo
As crianças e as representações sociais do Jardim de Infância

O presente artigo expõe os resultados de um estudo referente à temática das representações sociais, destacando a importância das representações colectivas face às individuais, visto que as definições colectivas excedem as representações pessoais do indivíduo.
Contudo, a definição de representação social depara-se com algumas dificuldades em encontrar consensos, sendo Jodelet (1989) quem melhor expressa a definição deste conceito, afirmando que as representações sociais são uma forma de conhecimento, elaborado e partilhado socialmente, com intuitos práticos e procurando construir uma realidade comum a um conjunto social. É de salientar que Moscovici (1969) considera uma representação social como um sistema de valores, de noções e de práticas relativas a objectos sociais, possibilitando a estabilização do quadro de vida dos indivíduos e dos grupos, constituindo não só um instrumento de orientação da percepção e de elaboração das respostas, mas também de comunicação dos membros de um grupo ou de uma comunidade. Assim sendo, as representações sociais constituem modelos teóricos referentes a objectos sociais relevantes, constituindo, portanto, uma modalidade de conhecimento cujo intuito é apreender, avaliar e, consequentemente, explicar a realidade.
A criança é um ser que não se contenta em viver a Pré-escola, pois vai construindo um conjunto de imagens captadas quer no meio familiar quer no meio escolar, segundo Luçart (1976).
Desta forma, as representações sociais possibilitam analisar o local idealizado e construído para as desenvolver, concretamente o Jardim-de-Infância.
O Jardim-de-Infância é um local considerado privilegiado devido, quer às aprendizagens quer ao desenvolvimento que proporciona. Como tal, colocam-se algumas questões que permitem reflectir sobre a sua estrutura e dinâmica, tais como: As crianças gostam do Jardim-de-Infância? O que pensam elas sobre o Jardim-de-Infância? O que falta? O que pensam da Educadora? Os motivos pelos quais frequentam o Jardim-de-Infância são iguais aos que atribuem os pais? Como percepcionam as crianças que não frequentam o Jardim-de-Infância?
Neste sentido, foi efectuado um estudo, cujo objectivo foi responder às questões acima transcritas, ou seja, teve como foco as representações sociais que as crianças têm do Jardim-de-Infância. Assim, este estudo abrangeu trinta e seis crianças, trinta e duas com cinco anos e quatro com seis anos, dezoito meninos e dezoito meninas, residentes no distrito de Viana do Castelo. Foram envolvidas neste estudo nove instituições de Educação para a Infância, do ensino público e privado, abrangendo dezoito salas.
Para tornar viável este estudo foi usado como instrumento de pesquisa - o questionário – composto por oito questões sobre o Jardim-de-Infância (4 questões), a educadora (2 questões) e as crianças que não frequentam o Jardim-de-Infância (1 questão). As perguntas chegaram às crianças por meio de uma história onde foi utilizado o método de “desenhar e escrever” de Williams, Wetton e Moon (1989). Deste modo, a criança, individualmente, desenhava enquanto o adulto registava as suas respostas e os seus comentários aos desenhos. Foi solicitado que os desenhos fossem realizados em folhas A4 e a lápis.
Relativamente ao tratamento de dados este foi realizado por meio da análise de conteúdo, concretamente a análise categorial.
Os resultados obtidos a partir deste estudo foram interessantes, mas também suscitaram algumas interrogações e, vieram a confirmar os dados de outros estudos realizados sobre esta temática.
As crianças representam o Jardim-de-Infância como um espaço agradável, onde gostam de estar, onde podem brincar e sobretudo onde têm amigos. É visto como um espaço de grandes dimensões onde encontram diversos materiais e onde o exterior (recreio) representa um papel muito importante para a criança. Esta importância conferida ao exterior leva os educadores a questionar-se acerca da sua intervenção pedagógica, pois é visível a separação entre as actividades dirigidas e planeadas pela educadora na sala e as actividades livres, que surgem no exterior sem planificação. Portanto, o exterior torna-se um espaço com reduzidos materiais e “nu” como impulsionador de actividades para a criança e de perspectivas de intervenção para o educador. Porém, esta advertência feita pelas crianças deve ser tida em conta, ou será que não devemos rentabilizar este espaço diariamente no acto educativo?
Quando questionadas sobre os aspectos que faltam no Jardim de Infância as crianças não respondem de forma clara, talvez por falta de um termo de comparação, ou seja, falta de conhecimento de outras instituições.
No que diz respeito à representação social da educadora feita pelas crianças, de forma geral, é de uma pessoa que gostam, referindo que é “boa e amiga”. No entanto, as crianças também salientaram os atributos físicos da educadora sublinhando que ela é “bonita”, especialmente as raparigas e uma grande percentagem referiu-se aos cabelos da educadora (se são curtos ou compridos).
O Jardim de Infância segundo Florin (1987) é concebido como um espaço de aprendizagem e trabalho e, neste artigo, a teoria de Florin foi confirmada, na medida em que os pais mandam as crianças para o Jardim de Infância para aprenderem. Porém, para as crianças as actividades que realizam no Jardim de Infância têm uma parte lúdica, isto é, para elas o Jardim de Infância é meramente para brincar.
A última questão abordada consistia nas representações que têm das crianças que não frequentam o Jardim de Infância. Mediante os dados obtidos verificou-se que as crianças mencionam como tristes aquelas que não frequentam o Jardim de Infância, por um lado por não andarem na escola e por outro por não terem amigos para poderem brincar.
Desta forma, as crianças têm representações sociais coesas acerca da realidade Pré-escolar, sendo estas representações positivas no que diz respeito ao Jardim de Infância e à intervenção da educadora. É de subscrever que as crianças conseguem opinar sobre a intervenção da educadora, na medida em que já diferenciam as diversas actividades que esta lhes propõe.
É de salientar que Weikart apurou que as crianças que frequentam o Jardim de Infância obtêm benefícios na forma como encaram a instituição escolar – mais atitudes positivas – e na rentabilização escolar – menos reprovações.
Em suma, apesar das imensas potencialidades dos estudos das representações sociais, estas são ainda pouco exploradas, havendo muitas outras questões pertinentes e que nos poderão ajudar a conseguir uma Educação de Infância de Qualidade, tais como: Quais são as representações sociais dos parceiros educativos envolvidos na Educação para a Infância? Que representações se constroem com a integração de crianças com Necessidades Educativas Especiais nas salas do Jardim de Infância? Entre outras.












Análise crítica, pessoal e fundamentada
As crianças e as representações sociais do Jardim de Infância


“Compreendermo-nos a nós próprios é um processo que decorre ao longo da vida. Para todos nós - adultos e crianças -, o processo de reflexão, isto é, aquele em quem nos vemos através dos olhos dos outros, começa quando nascemos e as suas raízes, que mergulham na primeira infância, são da máxima importância.”
(Roberts, 1995 cit in Siraj-Blatchford, 2004, p.145) .

O estudo das representações sociais das crianças do Pré-escolar concebem às mesmas uma forma de exprimirem, livremente, a sua opinião ou o seu ponto de vista e demonstrarem, ainda, as suas concepções acerca quer do Jardim de Infância quer do educador. É a partir destas representações sociais que o educador se consciencializa e verifica se os seus objectivos estão a ser cumpridos. O educador poderá, igualmente, reflectir sobre a sua prática, como esta é sentida e aceite, e como influencia o comportamento e concepções do grupo de crianças. Neste sentido, é importante ter em conta que, segundo vários estudos realizados, o Jardim de Infância é um local onde a criança constrói saberes, brinca e aprende em conjunto e onde se torna autónoma, ou seja, citando Bouchard e Wackler “(…) as crianças tornam-se mais independentes, mais activas, envolvem-se em mais actividades construtivas e interagem mais frequentemente com os seus colegas, isto é, tornam-se mais sociáveis.” (cit in Marques, pp. 23, 24) .
Desta forma, depreendemos que as representações sociais concebem uma contextualização teórica que nos permite, a nós educadores, compreender melhor a forma como as crianças vêm o espaço que construímos para as desenvolver, concretamente o Jardim de Infância, tendo em conta que a entrada no mesmo “(…) significa, entre outras coisas, uma ampliação dos seus vínculos afectivos e sociais. Assim, da relação somente com um pequeno conjunto de pessoas (fundamentalmente membros da sua própria família), passa a estabelecer vínculos muito diferenciados com adultos e crianças: educadores, diverso pessoal do Jardim de Infância, companheiros… Do mesmo modo, irá descobrindo espaços diferentes daqueles a que estava mais habituada e nos quais se desenvolvia com certa autonomia e segurança.” (Mª del Mar Cortés Bohígas et al, 1997, p.377) . Neste sentido, o Jardim de Infância é vida, ou seja, as experiências que as crianças adquirem no mesmo são experiências que correspondem à vida real, pois estas não fazem distinção entre as experiências escolares e as não escolares.
No que diz respeito ao método de recolha de dados, na nossa opinião, foi muito bem conseguido, pois, tal como observámos na nossa prática, as crianças reflectem para o papel muitas das suas vivências e, normalmente, são as mais significativas para as mesmas, isto é, como educadores “Não podemos esquecer que o desenho é também uma forma de escrita e que os dois meios de expressão e comunicação surgem muitas vezes associados, completando-se mutuamente. [e] O desenho de um objecto pode substituir uma palavra, uma série de desenhos permite «narrar» uma história ou representar os momentos de um acontecimento…” (Ministério da Educação, 1997, p.69) .
Nos seus desenhos as crianças representaram o Jardim de Infância como um espaço agradável, lúdico e onde têm muitos amigos. Na nossa perspectiva, as crianças têm esta percepção do Jardim de Infância, pois é um espaço apoiante e de partilha de controlo entre as crianças e o adulto, na medida em que “Quando existe partilha do controlo, há equilíbrio entre liberdade e estrutura. Os adultos criam um ambiente ordenado e rotinas diárias no quadro das quais as crianças podem tomar iniciativas e seguir os seus interesses. Num ambiente apoiante, a iniciativa parte tanto dos adultos como das crianças.” (Brickman & Taylor, 1991, p.19) , ambas as atitudes (apoiante e de partilha de controlo) encorajam e apoiam as crianças na resolução de problemas que surgem ao longo do dia, fazendo-as sentir-se bem neste espaço para elas equipado. O que nos surpreendeu nesta questão foi a relevância que as crianças deram ao espaço exterior, a nós e ao autor do artigo, é surpreendente como as crianças nos podem dizer tanto sobre a nossa prática. O exterior é um espaço pouco explorado, por nós educadores e, no entanto, representa tanto para as crianças, em certa medida, porque “As brincadeiras de exterior levam, com frequência, a que as crianças se juntem. Mobiliário com grandes dimensões, como escorregas, baloiços, casas de madeira, têm um efeito socializador porque podem comportar mais do que uma criança de cada vez. As crianças tentam fazer aquilo que vêem os outros fazer…” (Hohmann & Weikart, 2007, p.433) . É importante salientarmos que, na nossa opinião, o tempo de exterior é um espaço que permite às crianças expressarem-se e exercitarem-se por meio de brincadeiras que, por vezes, não são exequíveis no interior, sendo no exterior que se desenvolvem as actividades mais revigorantes e barulhentas. Mediante esta referência das crianças ao exterior, não deveríamos incluí-lo mais vezes na prática pedagógica? E enriquecê-lo a nível de materiais?
A questão colocada às crianças, referente aos aspectos que faltavam no Jardim de Infância é, para nós, a mais mediática, apesar de as respostas obtidas por parte das crianças não serem significativas, segundo Jorge Barbosa, “(…) por falta de conhecimento de outras realidades que serviriam como termo de comparação.” (cit in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.22) . Consideramos esta questão mediática, na medida em que a criança é capaz de identificar objectos, por exemplo, que gostariam de ter na sua sala e não têm, sendo a opinião das mesmas face aos materiais e espaços da sala de actividades muito importante, podendo enriquecer não só as suas aprendizagens e interesses como permite, ainda, ao educador enriquecer a sua interacção com as crianças. Consideramos esta questão mediática, também, porque na prática de uma das alunas, as crianças costumavam ir às outras salas pedir os brinquedos emprestados, brinquedos esses que não tinham na sua sala e que gostavam de ter, porque queriam sempre brincar com os mesmos. Esses brinquedos eram, normalmente, da área da casinha, nomeadamente as roupas, os sapatos e o salão de beleza.
No que diz respeito à educadora, as crianças representam-na como sendo bonita, boa e amiga. É aqui, que nós discordamos da opinião do autor, quando este afirma que as crianças se referem ao aspecto físico quando adjectivam a educadora como bonita. Na nossa opinião, e por aquilo que temos observado na prática, as crianças quando sentem carinho e afectividade pela educadora adjectivam-na como bonita, mas bonita a nível de carácter e personalidade – o seu interior – e não relativamente ao seu aspecto físico, pois “Quando existem relações sólidas, empáticas e afectivas, as crianças aprendem a ser mais afectuosas e solidárias e acabam por comunicar os seus sentimentos, reflectir nos seus próprios desejos e desenvolver o seu relacionamento com as outras crianças e com os adultos.” (Brazelton e Greenspan, 2006, p.29) .
As crianças percepcionam o Jardim de Infância como um espaço lúdico, isto é, como um espaço para brincar, já os pais perspectivam o Jardim de Infância meramente como uma escola, como um espaço unicamente de aprendizagem e de trabalho, isto é, as crianças são inseridas no Jardim de Infância para aprenderem. Porém, cabe ao educador contornar este obstáculo, ainda que seja difícil desconstruir esta ideia, tendo em conta que “Não é possível «fazer crescer» pessoas sem alimentar as suas raízes. Não podemos guiá-las em direcção ao futuro sem valorizarmos o seu passado.” (Martin Luther King, JR. cit in Hohmann e Weikart, 2007, p.112) . Deste modo, na nossa opinião, o educador deve, ao longo da sua prática pedagógica interagir, diariamente, com os pais dando-lhes a conhecer o seu trabalho, os seus objectivos e aquilo que é a educação de infância, nunca alimentando discussões com os mesmos. Na medida em que ao discutirmos com os pais estaremos a afastar-nos deles e a afastá-los de nós, o que implica que eles deixem de nos ouvir e de acreditar no nosso trabalho, ou seja, antes de iniciarmos uma “guerra” devemos pensar o que é mais importante, será a opinião dos pais face à nossa profissão ou o desenvolvimento da criança? Para nós é, certamente, o desenvolvimento da criança. Sendo crucial reforçar que quer para os pais quer para nós “(…) educação é sinónimo de crescimento uma vez que não pode ser provocada a partir do exterior, nem acontecer simplesmente no interior de cada indivíduo; é um processo de interacção onde o aprendiz «cresce» através da constante reconstrução da experiência e informação de um modo pessoalmente útil.” (Dewey cit in Roldão, 1994, p.78) .
Outro dos aspectos que nos surpreendeu neste questionário foi a opinião das crianças face às crianças que não frequentam o Jardim de Infância, pois perspectivam essas crianças como tristes e sem amigos, e isto reforça a ideia de que as crianças se sentem felizes no Jardim de Infância por terem muitos amigos, isto significa que apesar dos desentendimentos que são frequentes nestas idades, “As crianças em idade pré-escolar são progressivamente mais capazes de formar relações com colegas, mostrar consideração pelos outros e resolver problemas de uma forma cooperativa – comportamentos que reflectem as suas crescentes capacidades de iniciativa e relações sociais.” (Hohmann e Weikart, 2007, p. 570) .
Este estudo exploratório permite-nos evidenciar que as crianças têm representações sociais coerentes no que diz respeito à realidade Pré-escolar em que se inserem. Sendo importante sublinhar que a criança que frequenta o Jardim de Infância, segundo Weikart (1967;1984 cit in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.23), adquire atitudes positivas face à instituição escolar e, consequentemente têm menos reprovações e aulas de apoio. Portanto, “(…) aquilo que nós representamos mentalmente, acerca de determinado objecto (comportamentos, realizações, etc.) condiciona em parte aquilo que obteremos.” (Bairrão, 1986, p.92 cit in Cadernos de Educação de Infância nº54, 2000, p.23) , tendo em conta que “(…) a educação pré-escolar fornece às crianças uma interacção cognitiva com o seu meio, que de outra forma não teriam possibilidades de experimentar. Como resultado, as crianças entram na escola primária com uma maior habilidade cognitiva e, desde o começo, trabalham melhor na escola primária. Elas sabem que o seu aproveitamento escolar é maior, estão mais empenhadas na escola e assumem papéis consistentes com o seu maior sucesso.” (Schweinhart e Weikart cit. in Ramiro, s/d, p.25) .
Portanto, existem algumas questões gerais que com certeza as suas respostas ajudariam a obter uma Educação de Infância de qualidade, tais como: Quais são as representações sociais dos parceiros educativos envolvidos na Educação para a Infância? Que representações se constroem com a integração de crianças com Necessidades Educativas Especiais nas salas do Jardim de Infância? Que representações sociais se criam com uma focalização dos momentos pedagógicos fundamentais que ocorrem no Jardim de Infância?














Conclusão

Posto isto, é-nos possível depreender que o Jardim de Infância é um espaço que permite às crianças compreender não só o mundo que a rodeia e as suas relações com ele, mas também a entenderem a si mesmas.
A partir deste estudo é possível verificar que as representações sociais do Jardim de Infância e, também, da Educadora são positivas. Neste sentido, é importante salientar que as crianças que frequentam o Jardim de Infância obtêm atitudes mais positivas relativamente à escola, assim como têm menos reprovações e, consequentemente, menos aulas de apoio.
É fulcral realçar que a análise das representações sociais das crianças do Jardim de Infância deveria ocupar um lugar cada vez mais evidente no discurso científico e pedagógico do Educador de Infância. Neste sentido, foi relevante para nós analisarmos este estudo exploratório na medida em que aprendemos que as representações sociais das crianças “dizem” muito sobre nós e a nossa prática enquanto Educadores, permitindo-nos, ainda, compreender de uma outra forma o contexto escolar e a própria criança.
Deste modo, o estudo deste artigo fez-nos ir ao “baú” e voltar a ver os desenhos que as crianças da nossa prática pedagógica do 3ºano nos ofereceram e, a partir da análise dos mesmos, foi-nos possível verificar algumas das questões que foram postas em causa neste artigo.
Portanto, o estudo das representações sociais é um plano de pesquisa com muitas potencialidades, porém muito pouco exploradas ainda.

Bibliografia

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